quarta-feira, 15 de junho de 2011

Língua e Cultura


A fala pernambucana
Em Pernambuco, a língua portuguesa aportou primeiro. Aqui chegou com o donatário da capitania, quando o Brasil era apenas uma faixa estreita, limitada pelo Tratado de Tordesilhas. Certo que São Vicente foi uma próspera capitania, mas os jesuítas, que por lá viveram, catequizando os gentios, preferiam ensinar-lhes em latim e aprenderem a língua geral da costa, o tupi.
Assim, Pernambuco deu início à saga da língua portuguesa no Brasil, adaptando-a a novos hábitos fonéticos, recheando-a de termos de origem indígena e, mais adiante, de origem africana, e guardamos esta modalidade de língua transplantada como um tesouro, sem quase modificá-la, até porque, diferente do Sudeste, não recebemos contingentes de imigrantes, falantes de outras línguas.
Como língua e cultura são indissociáveis, a língua de Pernambuco marca uma cultura rica em termos, em ritmos, em expressão plástica, isto tudo com um traço popular, que não se aprende na escola, nem é valorizada em época de globalização. Pois essa cultura rica e essa língua curiosa pertencem a uma região que, no decurso da colonização, foi preterida por outras regiões.
Os que aqui vivem talvez não notem essas peculiaridades regionais, pois nelas estamos imersos, e só podemos apreciar algo quando nos afastamos, como nos ensina Paulo Freire com seu método. Um certo afastamento é que nos faz ver a realidade de forma objetiva, sem o envolvimento que tolda a capacidade de observação e análise.
As expressões usadas são conhecidas de todos, do litoral ao sertão brabo (nome bem pernambucano). Alguns termos são vindos da mídia com guia eleitoral (usado só em Pernambuco), da herança árabe (alcatifa, alfenim, alfelô) e outros vindos das várias camadas de falares, como boyzinha (urbano), bolo de rolo (tradicional), grear (urbano), guenzo (zona da mata), briba(sertão).
Outros termos são arcaizados como gibão, gigolê, gata-parida, cunhã, pai d’égua, tareco. Alguns são bastante atuais e ainda passeiam nas nossas conversas cotidianas: urna prenhe, trem virado, titela, toco, serra (lixa de unha), raspadinha, rasgar a boca. Esses termos  frequentam  letras de músicas regionais, receitas diversas e frases dos escritores que por aqui viveram e se expressaram no linguajar rico de metáforas e metonímias de nossa gente, que assume uma visão de mundo diferente das demais regiões, pelas expressões vindas da boca do povo, pois, como diz Bandeira, ele é quem fala o português gostoso do Brasil.
Na internet, circulam várias dessas expressões que mostram como falamos (e somos) diferentes. É impossível elencar tudo, mas serve como amostra da fala pernambucana, no cotidiano.
Segundo é observado, o pernambucano não fica solteiro, ele fica "solto na bagaceira". Além disso não vai embora, ele pega o beco e não conserta, mas "emenda". Quando se empolga, "fica com a mulesta" e não bebe um drinque, "toma uma" ou todas; não corre, "dá uma carreira", nem zomba dos outros, "manga". "Resenha" e não conversa, não sai apressado, "sai desembestado"; não é distraído, é "avoado". Não se irrita,  "se arreta", e não fica com vergonha,  fica "encabulado" ou "todo errado". Não rega as plantas, "agoa", não dá bronca, dá "carão". Ninguém é chato, mas "cabuloso". Quando se espanta, diz: "Viiixi Maria! Aff Maria!" É "desenrolado", não pula, dá "pinote", não briga, mas "arenga". E finalmente quando liga para alguém, não diz alô, atende e diz logo: - "Tás onde"?
As expressões citadas não nomeiam objetos ou eventos e sim atitudes, ações e modos de ser. Não são coisas como pitoco, cotoco, pipoco. Revelam a alma e o comportamento de um povo. Mas, será que essa forma de falar (sim, porque escrever é diferente, deve-se seguir a norma geral) vai resistir e permanecer em  tempos de comunicação globalizada?

2 comentários:

  1. Cada povo , de regiões diferentes do brasil tem um jeito peculiar de falar, isso se chama na lingua portuguesa de variação linguistica regional, em Pernambuco, por exemplo
    isso é bastante frequente , como também na Bahia , e em diferentes estados do nordeste . Andrea Neves SOARES 1 B ESCOLA COSTA AZEVEDO

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  2. Acho que o modo de falar Pernambucano é o que da essa personslidade legal, porque em qualquer lugar se reconhece um Pernambucano, através do sutaque inconfundivel, que alem de se original é engraçado. Lucineide 1b Escola Costa Azevedo

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