sábado, 18 de junho de 2011

Cantiga da Ribeirinha ou Cantiga de Guarvaia

Considera-se como primeiro texto literário português essa cantiga (poema musicado) escrita por Paio Soares de Taiveiros, datada de 1189 ou 1198. O poema foi dedicado a d. Maria Pais Ribeiro, amante de d. Sancho I.
Através desse poema podemos ter uma ótima visão de como a nossa língua tem evoluído ao longo dos anos. Nesse tempo, o nosso idioma tinha muito do galego, influência do idioma falado na Espanha. Também podemos notar o quanto o trovador (aquele que recitava a cantiga) tinha um estilo de submissão pelo ser amado (a mulher), representando a relação de Suserano (nobre) e Vassalo (servo) tão forte naquela época.
Segue também a versão no Português atualizado.

No mundo non me sei parelha,
mentre me for como me vai,
ca já moiro por vós - e ai!
mia senhor branca e vermelha,
queredes que vos retraia
quando vos eu vi en saia!
Mau dia me levantei,
que vos enton non vi fea!

E, mia senhor, des aquel dia', ai!
me foi a mi mui mal,
e vós, filha de don Paai
Moniz, e ben vos semelha
d'haver eu por vós guarvaia,
pois eu, mia senhor, d'alfaia
nunca de vós ouve nem hei
valia d'ua correa.

Versão:

No mundo não conheço ninguém que se compare a mim em infelicidade,
enquanto minha vida continuar como vai indo,
porque já morro de amor por vós - e ai!
minha senhora vestida de branco e de faces rosadas,
quereis que eu vos descreva
quando eu vos vi sem manto!
Em infeliz dia me levantei,
pois vos vi bela, e não feia!

E, minha senhora, desde aquele dia, ai!
tudo correu muito mal para mim,
e vós, filha de Dom Paio
Moniz, parece-vos suficiente e satisfatório
que eu deva receber, por vosso intermédio uma guarvaia (luxuoso vestido de corte);
pois eu, minha senhora, na verdade como prova de amor
nunca de vós recebi nem receberei
nem o simples valor de uma correia. (nenhuma coisa de valor)

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