domingo, 24 de julho de 2011

Onde ou Aonde? Eis a questão.

Olá, pessoal. Em primeiro lugar, para começarmos a analisar esta questão, vamos curtir um pouco de um samba do famoso AGEPÊ, que já nos deixou, infelizmente, há alguns anos. Mas, mesmo assim, por sua qualidade musical e de composição, ainda é lembrado e admirado.


Aqui está a letra desse lindo samba, estilo musical que vem ganhando mais espaço nas músicas, contudo perdendo suas características originais.

Moro onde não mora ninguém
Onde não passa ninguém
Onde não vive ninguém
É lá onde moro
E eu me sinto bem
Moro onde moro ....
Não tem bloco na rua
Não tem carnaval
Mas não saio de lá
Meu passarinho me canta a mais linda
Cantiga que há
Coisas lindas vem do lado de lá
Coisas lindas vem do lado de lá
Moro onde moro ... (eu também moro...)
Uma casinha branca
No alto da serra
Um coqueiro do lado
Um cachorro magro amarrado
Um fogão de lenha, todo enfumaçado
É lá onde moro
Aonde não passa ninguém
É lá que eu vivo sem guerra
É lá que eu me sinto bem
Bem, vamos ao nosso problema. Muita gente falante de nosso idioma, utiliza os advérbios ONDE e AONDE de forma inadequada, exatamente por não saber qual usar. Hoje, existe uma moda ou mania de sempre se utilizar o AONDE, indiscriminadamente. Não importa o sentido. Apenas, usa-se. 
Claro que devemos respeitar os falares populares. Nossa língua é viva, como todas as outras e suas transformações sempre ocorreram e continuarão ocorrendo. No entanto, devemos saber, de acordo com a norma culta, uma vez que é a norma de prestígio social, quando e como utilizar nossos vocábulos, em determinados momentos.
Se estamos entre amigos, não há problema de se utilizar a forma própria do seu contexto social de se comunicar. Mas se estamos diante de alguém ou em ambiente que se prestigia a norma padrão do nosso idioma, por que não usá-la?
Lembrando que um falante competente em um idioma não é só o que detem um tipo de norma, mas é aquele que consegue se comunicar plenamente independentemente do meio e da situação em que se encontra. Então, nunca é demais aprendermos algo a respeito de nossa língua.
Bem, voltando ao nosso assunto de hoje, toda vez que AGEPÊ refere-se ao lugar em que ele se encontra, utiliza o advérbio ONDE. Por que será que ele não usa o AONDE? Sempre diz: "Moro ONDE não mora ninguém, ONDE não passa ninguém, ONDE não vive ninguém..." Tanto um quanto o outro são advérbios que designam lugar.

Segundo os dicionários, de forma geral, temos as seguintes definições:
ONDE: utiliza-se em frases interrogativas e especializando situações locativas estáticas. (sem dar ideia de movimento)
AONDE: ao lugar que (em que direção); para o lugar que (para que direção); para qual lugar. (dá ideia de movimento).
Segundo os gramáticos, devemos utilizar AONDE com verbos que indicam a ideia de movimento. Como, por exemplo, os verbos IR, CHEGAR, DIRIGIR-SE ou LEVAR.

Se AGEPÊ refere-se a um lugar estático (parado), ele deve usar ONDE. Ele não está se movimentando para lá. Ele está parado, falando de um lugar ONDE ele mora.
Porém, se ele perguntasse a alguém que estava indo a algum lugar, faria a seguinte questão: Você vai aonde? Nesse caso, a pessoa estaria em movimento.

Concluindo, se é ideia de movimento: AONDE. Se é ideia de lugar estático (parado): ONDE.



Bem, no vídeo acima, o grupo Raça Negra utiliza o ONDE e o AONDE na letra dessa tão famosa canção. Sem tirar o mérito, pois não há dúvidas de que se trata de uma bela composição, ele emprega os referidos advérbios fugindo às regras da Norma Padrão. Nesse caso, ele usa a Licença Poética e a forma popular de se comunicar.

Aqui está a letra.

Amor igual ao teu
Eu nunca mais terei
Amor que eu nunca vi igual
Que eu nunca mais verei
Amor que não se pede
Amor que não se mede
Que não se repete
Amor que não se pede
Amor que não se mede
Que não se repete
Amor igual ao teu
Eu nunca mais terei
Amor que eu nunca vi igual
Que eu nunca mais verei
Amor que não se pede
Amor que não se mede
Que não se repete
Amor
Você vai chegar em casa
Eu quero abrir a porta
Aonde você mora?
Aonde você foi morar?
Aonde foi?
Não quero estar de fora
Aonde está você?
Eu tive que ir embora
Mesmo querendo ficar
Agora eu sei
Eu sei que eu fui embora
Agora eu quero você
De volta para mim
Amor igual ao teu
Eu nunca mais terei
Amor que eu nunca vi igual
Que eu nunca mais verei
Amor que não se pede
Amor que não se mede
Que não se repete
Amor que não se pede
Amor que não se mede
Que não se repete
Amor igual ao teu
Eu nunca mais terei
Amor que eu nunca vi igual
Que eu nunca mais verei
Amor que não se pede
Amor que não se mede
Que não se repete
Você vai chegar em casa
Eu quero abrir a porta
Aonde você mora?
Aonde você foi morar?
Aonde foi?
Não quero estar de fora
Aonde está você?
Eu tive que ir embora
Mesmo querendo ficar
Agora eu sei
Eu sei que eu fui embora
Agora eu quero você
De volta para mim
Amor igual ao teu
Eu nunca mais terei
Amor que eu nunca vi igual
Que eu nunca mais, nunca mais
Eu nunca, nunca, nunca, nunca, nunca, nunca, nunca, nunca, nunca, nunca, nunca mais terei...

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